O “brincar” com o analista.

A infância é o período em que se formam as raízes do psiquismo. É também o momento de maior aprendizado, e mais veloz da vida de um ser humano. Ali se encontra a base do inconsciente de cada um, aprendizados e marcas que permanecem durante toda a vida.

Neste momento, há uma vivência de ternura,  a criança funciona em relação ao mundo externo por mimetismo, e seu pensamento é, em maioria, lúdico. Já os adultos se encontram em um mundo mais racional, com defesas já construídas, têm vivências de paixão, mas carregam, em seu íntimo, marcas infantis.

Tanto na psicoterapia infantil, quanto na vida, é justamente no brincar (livre ou dirigido) que a criança se comunica, se expressa. É nesta atividade, que a criança pode ser ativa, no que vive passivamente no mundo adulto. Ao brincar, a criança elabora conflitos que vive interna ou externamente, aprende a conduzir situações, entende como funciona a participação social e forma vínculos.

Essa vivência é visualizada concretamente, seja em brincadeiras de mãe e filha, de irmão e irmã, de trabalhar como adulto, de cuidar, ou até em algo ainda mais lúdico, como um faz-de-contas de monstro, robôs,…

Mas, justamente por na infância estar a base do inconsciente, há um elo que liga a psicoterapia infantil e a de um adulto. O inconsciente é atemporal. E é ele que se deseja investigar.

Donald Winnicott diz, em O brincar e a realidade:

“A psicoterapia trata de duas pessoas que brincam juntas. Em consequência, onde o brincar não é possível, o trabalho efetuado pelo terapeuta é desenvolvido então no sentido de trazer o paciente de um estado em que ele não é capaz de brincar para um estado em que o é.”(página 63).

Ou seja, é tarefa do analista transformar paixão em ternura. É ali que se encontra a criatividade, a base e o fundamento pelo qual se constrói toda a própria relação como mundo.

Winnicott completa: “é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)”. (páginas 79-80)

Assim, pode-se chegar á meta final de uma análise para Donald Winnicott: a criatividade. Poder ter soluções criativas para as diversas situações que a vida apresenta. Assim como uma criança saudável tem, em suas brincadeiras.

 

Brasil, o país com maior taxa de Ansiedade no mundo.

De acordo com dados divulgados em 23 de Fevereiro de 2017, o Brasil é o país com maior taxa de Transtorno de Ansiedade do mundo, chegando a 9,3% da população. Já a depressão, quadro que pode ser desencadeado juntamente com a ansiedade, afeta 5,8% dos brasileiros, sendo assim o quinto país mais afetado no mundo.

Afetam esta taxa fatores socioeconômicos, como pobreza e desemprego e ambientais, como o estilo de vida em grandes cidades.

O número de diagnósticos em mulheres costuma ser maior, não só por questões hormonais como menopausa, menstruação e tireoide, mas também por homens terem mais resistência ao buscar ajuda profissional e entrar em contato com suas emoções.

A OMS estima que, no mundo, atualmente, haja 322 milhões de pessoas afetadas com a depressão, 4.4% da população, e 18% a mais do que há dez anos. Mais de 5% das mulheres teriam o transtorno no planeta, e 3.6% dos homens.

Por ano, cerca de 800 mil pessoas tirariam a própria vida por conta desta doença, além de ser a doença mais incapacitante na atualidade.

Já quanto à ansiedade, afetaria 264 milhões de pessoas, 15% a mais que em 2005.

 

A OMS ainda indica que as consequências dos transtornos mentais gerem, anualmente, uma perda econômica de Um trilhão de Dolares.

 

Fontes:

http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5354:aumenta-o-numero-de-pessoas-com-depressao-no-mundo&Itemid=839

 

Clique para acessar o WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf

“Depressão, o segredo que dividimos”

Andrew Solomon é o autor do livro O demônio do meio dia – um atlas sobre a depressão, vencedor do National Book Award de 2001, e que trata o transtorno de forma não só pessoal, como científica e também cultural. Ele escreve sobre política, cultura e psicologia e é professor de psiquiatria no Well-Cornell Medical College.

Neste TED talk, Solomon conta um pouco sobre sua experiência com o transtorno, mesclando com teoria:

Explica que o oposto de depressão não é felicidade, mas sim vitalidade. Que quando acometido, o sujeito sente dificuldade em realizar tarefas que antes fazia sem pesar, tudo tende a parecer trabalhoso, não há motivação. Racionalmente, a pessoa entende que tais afazeres não são tão árduos, mas ainda assim não vê saída.

No caso de Solomon, a depressão veio com comorbidade: a ansiedade, que diz ter sido ainda mais difícil de lidar. Descreve como uma sensação de medo permanente, sem objeto, ou seja, sem saber do que estava com medo. Neste momento, só o que o impedia de se matar era não querer fazer os outros sofrerem.

O palestrante conta que só buscou terapia e tratamento psiquiátrico, após ficar paralisado por quatro horas, sem conseguir movimento algum. Apesar de entrar em tratamento e saber objetivamente que sua vida era boa, Solomon alternava entre melhoras e recaídas. Diz ter entendido que faria terapia e tomaria medicamentos para sempre, e que tanto a cura química quanto a psicológica tem seu papel. Espera, que daqui a cinquenta anos, a ciência para tais tratamentos esteja bem mais evoluída que na atualidade.

O autor faz uma diferenciação importante: depressão, sentimento de luto e tristeza. Explica que o luto é uma reação temporária a uma perda. E que o que difere tristeza da depressão é a trajetória: a segunda é um excesso de tristeza e/ou de luto por uma causa qualquer. Um luto vivido em igual intensidade por mais de seis meses, por exemplo, já deve chamar atenção.

Solomon disse ter percebido o quanto a depressão se apresenta de forma heterogênea, e por isso entrevistou pessoas para tentar entender melhor seus mecanismos de resiliência.  Lembra que é a principal doença incapacitante do mundo, e que todos os dias há mortes por essa causa. Uma das entrevistadas diz que sua mente dizia: “Você não é nada. Você não é ninguém. Nem merece viver”, e que sua crença, naquele momento, era de que esta seria a verdade.

 Então, ele frisa o quanto pessoas deprimidas tem percepções ilusórias – e negativas. E o quanto o silêncio, que os sujeitos se impõem, ao não sentirem que podem comunicar o que sentem e sofrem, agrava o transtorno.
 Pensa também, o quanto, no caso deste transtorno, diversos tratamentos podem ajudar, de acordo com o que se sente, já que é uma doença que se trata justamente do sentir. E que não se deve pensar que o tratamento para depressão e os medicamentos não são algo natural, assim como não se pensa que usar pasta de dentes para cuidar dos dentes é questionável.
Além disso, lembra que a depressão não é algo “moderno, ocidental e de classe média”, exclusivamente, mas uma “vulnerabilidade genética, distribuída igualitariamente na população, e circunstâncias desencadeadoras, que costumam ser mais severas em pessoas mais pobres”. Isso ocorre, pois pessoas que já tem uma vida sofrida não costumam refletir tanto que possa haver tratamento para isso que se sente; já quem tem uma vida agradável e ainda assim se sente infeliz, tende a questionar. Que é importante ser capaz de sentir tristeza, medo, alegria, prazer e todos os humores, e não somente alguns.
Explica então, que não basta tomar uma “pílula da felicidade” para se sentir feliz, mas que sim, o tratamento permite que a tristeza não te anule mais.
Conclui, que o principal ponto que percebeu com suas entrevistas é que quem renega sua experiência com o transtorno, tenta se esconder dele, é quem fica mais escravizado pela depressão. E que as pessoas que lidam melhor com isso, são as que aceitam e suportam o que sentiram e passaram, assim encontram resiliência e aprendizado.
 Solomon finaliza: “Aprendi com minha própria depressão como uma emoção pode ser imensa, como ela pode ser mais real do que fatos, e descobri que essa experiência me permite vivenciar emoção positiva de um jeito mais intenso e focado. O oposto de depressão não é vitalidade, e atualmente, minha vida é vital, mesmo nos dias em que estou triste . (…) Acho que ao odiar estar deprimido, e odiaria novamente, descobri um jeito de amar minha depressão. Eu a amo por ela ter me forçado a buscar alegria e a me agarrar a ela. Eu a amo porque, todos os dias, eu decido, às vezes com bravura, e outras, contra a razão do momento, agarrar-me às razões de viver. E isso é um grande privilégio.”